Tomás Silva: “a simplicidade da cultura asiática fez-me passar a aproveitar mais os momentos e a valorizar menos o que é material”
Tomás Silva tem 20 anos. No verão de 2016 criou um canal no Youtube, onde iniciou o seu percurso como criador de conteúdos. As visualizações começaram a crescer com a série de regresso às aulas. Em 2018, atingiu mais de 1 milhão num único episódio!
Hoje, conta com mais de 175 mil subscritores. Concilia o trabalho de criador de conteúdos, tanto para o Youtube como para o Instagram, com a licenciatura em Publicidade e Marketing. Pelo meio fez um Gap Year, onde teve a oportunidade de estudar durante 2 semanas em Singapura.
@tomassilva_
Estavas preparado para todo o sucesso que a tua série do regresso às aulas teve?
Honestamente, não. No bom e no mau sentido. Nunca pensei que a série chegasse ao número de pessoas que chegou e isso foi, sem dúvida, positivo. Foi o projeto que me permitiu perceber que é pela comunicação e/ou representação que quero passar. Jamais pensei que tivesse o impacto nas pessoas que teve. Não ter preparado tudo previamente fez com que, no meio de todo o alarido, o foco se perdesse. Chegou a um ponto, em que já não fazia sentido terminar o projeto. Foi uma lição de vida e uma aprendizagem necessária para o futuro.
Hoje em dia já te habituaste a seres chamado no meio da rua por algum seguidor ou ainda estás a aprender a lidar com essa realidade?
Lido com ela diariamente e não sei como lidar. Continua a ser estranho para mim porque encaro todo este mundo com muita naturalidade. Sempre que me abordam não penso que a pessoa “x” já me conhece ou segue há “x” anos, penso simplesmente que é uma pessoa tal e qual como eu e que podemos ter uma conversa interessante. Já aconteceu ser abordado, pedirem-me uma foto, puxar conversa, e passado meia hora de estarmos a falar já ninguém se lembra da foto.
@tomassilva_
Pouco depois de atingires a maioridade, conseguiste organizar-te financeiramente para teres a tua própria casa e gerires todas as despesas relacionadas com a mesma. Hoje, consideras que tomaste uma decisão precipitada ou se voltasses atrás farias tudo da mesma forma?
Sou precipitado na vida em geral. De facto, consegui organizar-me financeiramente para tal, mas se fosse agora, teria repensado duas vezes e gerido melhor os impulsos (e a carteira). De qualquer das formas, não me arrependo, e foi um passo fulcral para o meu crescimento pessoal. E só por isso faria tudo da mesma forma.
Optaste por fazer um Gap Year após terminares o secundário. O que mais te motivou a tomar essa decisão?
Sentir que não estava ainda pronto para ir para a faculdade e não ver qualquer benefício nisso. No momento em que saí do secundário senti que precisava de reunir um conjunto de experiências pessoais e profissionais que me fizessem crescer antes de voltar a aprender e a focar-me numa área específica. Passamos 12 anos da nossa vida consecutivos (no mínimo) a aprender, e grande parte dos conteúdos que nos são dados não nos ajudam em nada na nossa vida diária. Faltava-me isso, a escola da vida. E recomendo a toda a gente que mo pergunta que o faça.
Sentes que essa experiência mudou-te enquanto pessoa e de certa forma contribuiu para o teu crescimento?
Sem dúvida. Aprendi tantas coisas que tenho a perfeita noção de que imensa gente com 20 anos ainda não experienciou. Sentir que estamos esse passo à frente, mesmo que por vezes possamos sentir-nos desenquadrados em relação aos nossos pares acho que nos dá uma estaleca para o resto da nossa vida e, acima de tudo, para as decisões que teremos de tomar.
@tomassilva_
O que mais guardas da tua experiência com a EF, em Singapura?
Tanta coisa que nem consigo enumerar. Acho que sem dúvida a magia que aquela viagem proporcionou e a mudança que causou em mim. Entrar num continente e numa cultura completamente distinta fez-me olhar para tudo em Portugal de forma diferente, e a simplicidade da vida e cultura asiáticas fez-me passar a aproveitar mais os momentos e a valorizar menos o que é material. De entre muitas outras, este foi dos maiores ensinamentos que retirei da viagem.
Através das tuas redes socias partilhas alguns dos destinos onde já tiveste. Qual é a tua viagem de sonho, neste momento?
Nunca visitei a África e a Oceânia. No entanto, tenho imensa vontade de voltar à Ásia. Diria que neste momento estou indeciso entre Austrália, Japão e Angola. Deixei de ter destinos de sonho, quero observar todas as realidades possíveis.
@tomassilva_
O que está na tua bucket list?
Saltar de avião (e sim, sou a típica pessoa que lhe ofereceram um daqueles packs surpresa com isso e que deixou passar o prazo de validade).
Nesta quarentena voltaste a viver com a tua família. Como é que foi a readaptação, visto que estavas acostumado a viver sozinho e a teres uma liberdade praticamente absoluta?
Foi interessante e divertido, até. Não senti que houve uma grande readaptação, senti que voltei a uma fase mais adolescente da minha vida e foi bastante bom "regressar à base".
O teu trabalho faz com que tenhas de puxar constantemente pela criatividade. Provavelmente quando estás a publicar algo, já estás a pensar no que podes fazer para inovar nos projetos seguintes. Isso faz com que tenhas mais dificuldade em viver o presente?
Sem dúvida. É díficil às vezes aproveitar o que criamos porque na nossa cabeça existe sempre um chip que diz "ok, está bom, mas as pessoas já querem o próximo". E nesse aspeto sou muito rígido comigo mesmo, portanto infelizmente (por um lado) acabo por viver mais o futuro e o caminho que quero trilhar para chegar a um determinado objetivo ou conteúdo e não aproveito os conteúdos que vou criando até lá. Mas faz tudo parte do processo criativo de cada um, eu posso ter esta experiência, e outra pessoa algo completamente diferente.
Por Catarina Silva